O Melhor do mundo

Há assuntos sobre os quais gostamos sempre de falar e outros que evitamos. Não tanto porque não nos agradem, ou porque haja pouco a dizer, mas sobretudo pelos contrastes de recordações, emoções e sentimentos que despertam. E ainda, porque precisávamos de soluções e não as encontramos, por muito que as procuremos.

O mês de junho é o mês das crianças. Ora, falar delas, enquadra-se no que acabei de dizer.

Ser criança é tão bom! Ingenuidade, ausência de preocupações, enfim, um mundo de felicidade. Mas sendo assim, porque é que é nessa altura que mais se chora? Então, porque é que a criança se veste com várias capas quando enfrenta a realidade que lhe é hostil? Porque é que rejeita? Porque é que esconde dentro de si, de forma muitas vezes inconsciente, os traumas, os medos, as dúvidas, que a marcarão para toda a vida?

Nós adultos, tantas vezes dizemos que “quando éramos pequenos é que era bom”. Mas seria mesmo assim? Ou só quisemos ficar com o agradável, apagando os dias em que enfrentámos todos aqueles mundos desconhecidos?

Hoje temos os nossos filhos, os netos. Tentamos protegê-los, defendê-los. Aproveitá-los para nós. Connosco. Dar-lhes aquela segurança que, certamente, nos fez falta então. Porque, não nos iludamos, por muita companhia que a criança tenha, ela estará sempre sozinha no seu mundo.

Mês de Junho. Portugal e outros países lusófonos adotaram a data de 1 deste mês para celebrarem o dia da criança.

Dia Internacional da Criança foi proclamado durante a Conferência Mundial para o Bem-estar da Criança, que decorreu em Genebra, em 1925.

A ONU assinalou o 20 de novembro como o Dia Mundial da Criança, para coincidir com a aprovação da Declaração Universal dos Direitos da Criança, em 1959, mas também, por marcar neste mesmo dia, a Convenção dos Direitos da Criança, em 1989.

O Princípio 2.º da Declaração universal dos Direitos da Criança enuncia: “ A criança gozará de uma proteção especial e beneficiará de oportunidades e serviços dispensados pela lei e outros meios, para que possa desenvolver-se física, intelectual, moral, espiritual e socialmente de forma saudável e normal, assim como em condições de liberdade e dignidade…”

E no entanto, e no entanto, todos sabemos que a realidade não é esta.

Todos lemos as atrocidades que se cometem contra as crianças nos países menos concordantes com os direitos humanos. E nos outros também.

É culpado quem coloca crianças em montras para as vender. Mas também quem as compra.

É desumano quem usa o trabalho infantil. E quem sabe disso e fecha os olhos? E encomenda. E compra. E enriquece.

 Tiroteios acontecem nas escolas. E porque são fornecidas de forma consciente e responsável as armas que os provocam? E porquê em países civilizados?

Enfim, é por estas razões e várias outras que, para mim, falar de crianças, acaba por ser perturbador.

Antes de terminar esta longa conversa que outro objetivo não tem, se não o de provocar a reflexão, quero dizer que também há a tal parte boa, a que vale a pena não esquecermos para o nosso equilíbrio sentimental. E nessa parte, apraz-me dizer que se enquadra o CASCI, enquanto organização que procura cumprir o preconizado na Declaração Universal dos Direitos da Criança, preocupando-se com o bem-estar das que se encontram à sua guarda. Prova disso é a requalificação em curso das suas creches.

E completo, citando o poeta:

 “Grande é a poesia, a bondade e as danças…

Mas o melhor do mundo são as crianças”.

Liberdade, Fernando Pessoa.

Maria Helena Malaquias
Conselho Fiscal – CASCI

Ílhavo, 14 de junho de 2022

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