O Paradoxo da Obesidade nas pessoas idosas – Que Linha Separa a Saúde da Doença?

A obesidade é considerada uma doença cujo diagnóstico é feito com base no índice de massa corporal (IMC), isto é, a relação entre o peso e a altura, quando este se afigura igual ou superior a 30 kg/m2. Atualmente sabe-se que a obesidade é um fator de risco para vários problemas de saúde, potenciando o risco cardiovascular e, inclusivamente, a mortalidade. E nas pessoas idosas, será mesmo assim? Em 2002, surge o conceito de “paradoxo da obesidade”, que se refere ao efeito protetor que a obesidade pode ter nas pessoas idosas ou pacientes com doença crónica, estando até associada a uma diminuição da mortalidade. Este efeito é relativamente simples de perceber. Em situações de quedas, por exemplo, o tecido adiposo poderá constituir uma barreira protetora e prevenir fraturas ósseas, que, nesta idade, são tão difíceis de reverter. É também indubitável que uma maior percentagem de tecido adiposo confere maior proteção contra o stress fisiológico, por proporcionar reservas nutricionais e energéticas – quase como a natureza primária de um animal que se alimenta mais no inverno para ter reservas no caso de escassez de alimento.

Mas, afinal, as pessoas idosas com obesidade devem ou não devem perder peso? Ter um excesso de peso moderado pode conferir uma vantagem de sobrevivência em pessoas idosas. Ainda assim, um IMC ≥ 33 kg/m2 continua a estar associado a várias complicações o risco de mortalidade estará aumentado. No entanto, é fundamental lembrarmo-nos de uma coisa: a Organização Mundial de Saúde define “saúde” como “o estado do mais completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de enfermidade”. Ser saudável não se trata apenas de ter um IMC adequado ou parâmetros bioquímicos dentro dos valores tabelados. Ter saúde física sem saúde mental é como viver numa casa sem janelas. E de que vale submeter uma pessoa idosa a uma restrição calórica evidente ou retirar-lhe da alimentação as coisas que mais gosta, se isso lhe trouxer sofrimento? Recomendações de perda de peso em pessoas idosas com obesidade devem considerar todos os benefícios, mas também os riscos que daí possam advir. “Equilíbrio” deve ser a palavra que norteia essa decisão.

Gabriela Santos

Estagiária – Nutrição e Dietética

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