O reconhecimento de que as pessoas idosas são vítimas de violência foi tardio. Só no final dos anos 70 é que foi reconhecido como grave problema social, e recentemente considerado um problema de saúde pública e uma violação de direitos humanos. Nos últimos anos, o fenómeno ganhou um interesse crescente, centrando-se a sua abordagem na definição do conceito, fatores de risco, tipologias de vítimas e agressores/as, de fatores de risco e de proteção dos abusos, no desenvolvimento de teorias explicativas e de modelos de intervenção.
Assim, para além da agressão física, o abuso psicológico, financeiro, sexual, negligência, a par de um conjunto de fatores de risco ligados sobretudo à dependência e ao comportamento dos/as agressores/as, passaram a estar enquadrados no referido conceito.
É inesgotável a lista de comportamentos ilustradora da multiplicidade de maus-tratos infligidos às pessoas idosas, por vezes, as pessoas idosas são vítimas de sub ou sobre medicação, de agressão verbal, negligência, de abuso psicológico e financeiro. Também são alvo de infantilização, despersonalização e de processos de desumanização. As pessoas idosas tornam-se vítimas particularmente vulneráveis quando o seu estado de dependência e de saúde, em geral, é precário e se encontram isoladas da sua rede de parentesco, dos/as amigos/as e da comunidade. As pessoas idosas raramente denunciam o abuso porque têm medo de sofrerem retaliações e, na maior parte dos casos, não têm consciência dos seus direitos legais (Dias, 2010)
A teoria das dinâmicas intraindividuais considera que as pessoas idosas que estejam sob os cuidados de familiares que manifestem problemas mentais, emocionais ou outros traços psicopatológicos correm um risco superior de serem vítimas de abusos. O mesmo sucede quando há ocorrência de comportamentos aditivos. A transmissão intergeracional do comportamento violento argumenta que a exposição e a experiência de violência durante a infância conduzem à aprendizagem de comportamentos abusivos e provavelmente à sua reprodução. Postula que as pessoas que perpetram abusos sobre as pessoas idosas foram educadas em contextos familiares violentos. O stress experimentado pelos indivíduos no exterior da família é igualmente apontado como um fator de risco de abusos sobre as pessoas idosas. Acontecimentos como o desemprego e/ou dificuldades financeiras podem potenciar nos indivíduos comportamentos violentos. O isolamento social é igualmente considerado como um fator de risco para as pessoas idosas, pelo que as redes sociais de apoio são importantes, quer como fator de moderação do stress e das tensões experimentadas pelas famílias que têm pessoas idosas a seu cargo, quer como meio de combater o referido isolamento social.
Independentemente da diversidade dos fatores de risco explicativos, o seu efeito é muito nefasto causando nas pessoas idosas danos físicos, psicológicos, emocionais e morais. As pessoas idosas vítimas sentem-se geralmente culpadas dos abusos que lhes são infligidos, desenvolvem atitudes de isolamento, baixa autoestima e depressão. A presença de profissionais do serviço social, da saúde, das forças de segurança pública, entre outros, torna mais difícil a prática de abusos sobre esta população. O apoio comunitário, a integração na rede alargada das relações de parentesco e de vizinhança são medidas importantes inibidoras da ocorrência de abusos sobre as pessoas mais velhas na família.
Carla Gamelas
Técnica Superior de Serviço Social