Vamos falar de desfralde?

Este é um tema do qual muito se fala e tem a dizer. As crenças são muitas e, normalmente, vêm das pessoas mais antigas, mas… nem sempre. 

Como Educadora, deparei-me desde sempre com estas crenças que, de certa forma, nos pressionam. Porque queremos fazer o melhor pelas crianças, mas como Educadores/as no início de carreira e não tendo tido formação nesta área (muito erradamente), as dúvidas são muitas e acabamos por fazer como vemos ser feito.

Contudo, e ainda bem, a sede de saber mais está sempre em mim. E fui-me informando, fazendo formações e, não menos importante, fui mãe. Rapidamente fui percebendo que o desfralde não é algo assim tão simples e, acima de tudo, tem de ser um processo respeitador de cada criança. Independentemente se chegou a primavera ou não. Independentemente da nossa vontade de ver as crianças de cuequinhas. Independentemente de tudo o que não tenha a ver com o próprio desenvolvimento da criança. 

E é aqui que quero chegar. Assim como não aceleramos a introdução alimentar ou o nascimento dos dentes (porque não podemos, certo?), também não podemos acelerar algo que é também tão natural. 
E para que este processo aconteça de forma natural e respeitadora, primeiro a criança tem de desenvolver diversas competências, tanto neurológicas, como físico-motoras. E isso não conseguimos acelerar, pois não?

Podemos, sim, ajudar. Mas como? Permitindo que a criança em casa nos acompanhe à casa de banho, ou nomeando objetos como a sanita e o bacio e para que servem.

Mas quando começam a dar sinais? E que sinais? Em casa e no contexto educativo podemos ir notando que a fralda se mantém seca grandes períodos, as crianças começam a avisar que têm xixi ou cocó na fralda (numa fase mais avançada já avisam antes de fazer), depois começam a pedir para fazer… O ideal é colocar sempre ao dispor tudo o que a criança precisa para iniciar o desfralde e nós… nós damos-lhe a mão. Num caminho que é só dela. O progresso é gradual e às vezes há retrocessos. Mas está tudo bem!

E quando há avanços? Como reagir? Batemos palmas e reagimos euforicamente? Esta é outra questão não menos importante. Na verdade, reagir de uma forma exacerbada pode ser prejudicial, na medida em que muitas crianças acabam por se sentir pressionadas para agradar a pessoa adulta. E não é isso que queremos.

Então, mas e se não respeitarmos este tempo? Nada de grave acontece? Afinal de contas, antigamente era assim que se fazia e não morremos, não é? Na verdade, podem existir consequências a curto e longo prazo. Problemas de obstipação (pelo facto de os músculos não estarem preparados para o processo e se verificar a sua contração indevida), baixa autoestima (quando acontecem muitos acidentes), problemas renais, … E estes problemas podem estender-se para a vida adulta.

Em jeito de conclusão, o objetivo é tranquilizar as famílias e isentá-las de sentir pressão. Nem pelos/as médicos/as, nem por elementos da família bem-intencionados ou mesmo pela ideia de que a criança tem de sair da Creche sem fralda. Afinal de contas, quem realmente importa?

Ana Sousa,
Educadora de Infância

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