As vivências do Luto

 

O luto, muitas vezes associado ao conceito de morte, continua nos dias de hoje a ser considerado um assunto tabu; a pressa de existir faz-nos muitas vezes evitar pensar na morte. A morte sempre foi um acontecimento temido, assim como a forma de morrer, questões nas quais continuamos a preferir evitar pensar. Contudo, perante o cenário de Pandemia Sars-Cov19 que vivemos atualmente, a nível mundial, somos diariamente bombardeados/as com estatísticas e notícias diárias de números de mortes registadas, o que torna este assunto o tema do dia.

O Ser Humano procura de forma natural estabelecer laços afetivos mais fortes com determinadas pessoas, nomeadamente as relações que se estabelecem entre pais/mães-filhos/as, com os/as parceiros/as amorosos/as, os/as colegas de escola e trabalho, entre outras.

Segundo alguns estudos, a necessidade de vinculação do Ser Humano é uma necessidade instintiva de sobrevivência, assim como a satisfação de outras necessidades básicas, como comer. A intensidade dos laços criados depende da capacidade individual de cada Ser Humano de amar e ser amado. Por mais difícil que seja pensar sobre a morte e a perda, é, por outro lado, importante percebermos que esta é a única certeza que temos. Ao longo do nosso caminho, vamos encontrar pessoas a quem nos vamos ligar e vamos “perder” outras pessoas. A dor da perda será tanto maior quanto a intensidade do laço afetivo que tínhamos com essa pessoa.

O nosso organismo está constantemente à procura do equilíbrio. Da mesma forma que quando partimos uma perna temos que depois passar por um período de reabilitação até voltarmos a ficar bem, também quando passamos por uma perda, precisamos de passar por um período de adaptação, a esse processo nós denominamos de luto.

O luto é uma experiência natural, que pode ser acompanhada por um sentimento de tristeza, uma sensação de vazio, aperto no peito, fraqueza muscular, mas pode ainda incluir outras emoções, tais como, a negação, a raiva ou o sentimento de culpa.

O luto é um processo cognitivo que leva a que a pessoa necessite de se confrontar com a perda, lidar com todos os acontecimentos anteriores à altura da perda, e que consiga encarar o mundo de certeza de forma diferente, vivendo agora com esta perda.

Embora, como anteriormente referido, o luto seja um processo natural, pode tornar-se num processo complicado e até patológico. Para evitarmos que assim seja, não devemos adiar o luto e tentar suprir as emoções que estamos a sentir com aquela perda, devemos tentar evitar o isolamento, respeitar o nosso tempo, não esperando que a tristeza passe de um dia para o outro e procurar fazer tarefas que nos promovam bem-estar.

Em jeito de conclusão, gostava de poder deixar uma frase de TAGORE (in Pássaros Perdidos, CCLXVII) “a morte pertence à vida, como pertence o nascimento. O caminho tanto está em levantar o pé, como em pousá-lo no chão”.

 

 Por Andreia Vieira, Psicóloga, Diretora Técnica ERPI2

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