Graças a todos os avanços tecnológicos, sociais e científicos, durante os últimos anos assistimos a um aumento global da longevidade de vida. Contudo, esta nem sempre é acompanhada de qualidade de vida e, por isso mesmo, também verificámos um aumento de situações de maior fragilidade, multimorbilidade, dependência física e detioração cognitiva. Neste contexto, também nos últimos anos verificámos um aumento significativo do número de idosos que vivem em Estruturas Residenciais. Embora as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontem para o envelhecimento populacional como uma prioridade para a saúde pública, o apoio às pessoas idosas em fim de vida ainda é um aspeto em que ainda há um grande caminho a fazer.
Os cuidados paliativos emergem como uma necessidade imperativa para garantir a dignidade e a qualidade de vida das pessoas idosas residentes em ERPIS com doenças crónicas, como demências, doenças cardiovasculares, oncológicas, entre outras. Contudo, as ERPI´s frequentemente enfrentam limitações de recursos, tanto humanos como físicos. A implementação de cuidados paliativos requer equipamentos adequados, acesso a terapêuticas específicas e espaços que permitam um atendimento digno e humanizado. A obtenção desses recursos pode ser um desafio significativo, especialmente por questões de ordem económica e pelas equipas reduzidas e pouco especializadas para a especificidade destes cuidados. A humanização do cuidado é um dos pilares dos cuidados paliativos, traduzindo-se na criação de um ambiente acolhedor, onde as necessidades e preferências das pessoas idosas são respeitadas. O objetivo é proporcionar conforto, preservar a autonomia e promover o bem-estar emocional e espiritual dos residentes.
Os cuidados em fim de vida nas Estruturas Residenciais é um tema de extrema importância, pois cada vez mais as pessoas idosas passam os seus últimos dias aqui e é fundamental garantir que estas recebem os cuidados necessários para manter a sua qualidade de vida e dignidade. Por isso, é também essencial que olhemos para os profissionais/cuidadores que trabalham com esta população, de forma a podermos dar-lhes ferramentas para conseguirem gerir o melhor possível estas questões, tais como o conforto emocional e apoio espiritual. Além disso, é importante que as pessoas idosas tenham acesso a cuidados paliativos de qualidade, que visem aliviar os sintomas físicos. Com uma abordagem holística e compassiva, é possível garantir que as pessoas idosas tenham um fim de vida tranquilo e digno.
O cuidado em fim de vida envolve uma série de desafios emocionais para quem está envolvido, principalmente pelo sentimento de impotência, é por isso, importante reconhecer e lidar com as emoções que surgem durante este processo. Embora possa parecer clichê dizer que para cuidar dos outros também temos de estar bem, a verdade é que só estamos disponíveis para cuidar se estivermos emocionalmente bem. Algumas sugestões que podem ajudar os cuidadores a lidar com as nossas emoções são:
– Aceitar as suas emoções,
– Reservar um tempo para si sem sentimento de culpa;
-Procurar ter uma rotina diária que envolva um tempo para si, para relaxar, praticar atividades física e outros hobbies que lhe tragam prazer, e caso seja necessário não tenha receio de procurar ajuda.
É importante que quem cuida reconheça e respeite os seus próprios limites.
Cuidar de alguém em fim de vida pode parecer emocionalmente muito desafiador, mas também é uma oportunidade de oferecermos ao outro amor e compaixão.
Andreia Vieira
Psicóloga, Diretora Técnica ERPI2